Fiquem com a fé!!!

 Texto - Hebreus 12:1-16


Tema - Fiquem com a fé!!!


ICT - Assim como essa grande nuvem de testemunhas do passado. É nosso dever e obrigação testemunharmos acerca da fidelidade de Deus.


Objetivo Geral - Levar a congregação ao entendimento de que somos apenas mais um para fazermos parte daquele grupo seleto de pessoas que testemunham da fidelidade de Deus para com seu povo.


Objetivo Específico - Levar a congregação a reconhecer que a fidelidade de Deus é uma experiência compartilhada por Ele a todos. E que a única forma de demonstrarmos nossa fidelidade para com Ele é transmiti-la à geração que sucede a nossa.


Tese - Na prática se reconhece a fidelidade divina porque Ela se revela e se renova de geração em geração.




Introdução 



Quando pensei em fazer uma reflexão sobre o texto proposto. Não pensei que me veria na obrigação de revisitar em forma de leitura toda a epístola. Mas, tive que fazer. Não que isso representasse algum tipo de indisposição da minha parte para com o texto sagrado. Pelo contrário, ler a epístola aos Hebreus é sempre uma leitura prazerosa. A epístola, diferentemente de algumas outras, traz um certo grau de refinamento já que seu texto tem como principal característica aquele floreamento típico da tradição grega alexandrina. Outra coisa muito importante desde o primeiro capítulo e primeiros versos é que a relação de identidade entre o Pai e o Filho é estabelecida, do ponto de vista da substância. Assim como a distinção entre as duas pessoas¹. Dessa forma, não existe qualquer tipo de problema ao fazermos referência a esta epístola como um tratado teológico que sustenta as nossas percepções tanto doutrinárias quanto teológicas acerca da doutrina da trindade. Sempre que vou e participo de concílios examinadores de pastores, quando os candidatos são provocados a darem exemplos de textos bíblicos que dão respaldo a doutrina bíblica da trindade, dificilmente fazem alusão a este texto. Também se percebe aquele conceito de palavra de Deus enquanto elemento gerador e sustentador do mundo. E palavra aqui não é logos e sim _ ῥήμα _ Rhéma(Tem relação com a palavra falada, pronunciada). A ideia aqui ao fazer distinção entre palavra do ponto de vista de uma relação escriturística com palavra falada está mais ou menos relacionado com aquilo que Ferdinand de Saussure estabeleceu com o conceito de ‘Lange & Parole’ em seu curso de Linguística Moderna¹. 


A respeito da fé, não tenho qualquer tipo de problema quando vejo que está sendo  colocada a prova. O tipo de relacionamento que tenho tido com Deus não passa pelo crivo e aferição de caráter técnico-científico. Porém, em algum momento eu posso me sentir na obrigação de dar conta epistemologicamente falando a alguém dos pressupostos da fé que professo. Quando tenho que dar conta da nossa esperança(I Pedro 3:15), ou porque tenho que prestar contas das vias da teologia na direção do conhecimento². Nós cremos na providência e graça divina e ponto. Eu não estabeleço com quem quer que seja qualquer tipo de diálogo quando de um lado está alguém com suas teorias e pressupostos científicos e do outro lado, eu e a fé que deposito em Cristo. Essa é a primeira premissa que desejo aqui discutir, debater ou expor a vocês. As teorias científicas vão e vêm. Algumas estão de pé há décadas e décadas, outras foram refutadas e em seus lugares apareceram outras muito mais elaboradas. Entretanto, ainda assim isto não é sinônimo de que elas estão imunes ao surgimento de outros experimentos científicos que venham refutar estas mesmas teorias³. Aceitar qualquer tipo de diálogo em que se discute a natureza de uma fé religiosa em que o contraponto dela seja um pressuposto científico é o mesmo que estabelecer uma equiparação desses patamares. Isto aqui não significa nenhum tipo de apologia que tente desestimular qualquer um de vocês a não buscar o crescimento profissional, técnico e científico. Estudem, façam ENEM, vão para as universidades e sejam sal lá também. Tenho certeza que Deus haverá de fazer da vida de vocês vasos de bênçãos. Mas, principalmente, não se deixem levar pelas teorias. A fé em Cristo e a base de conhecimento advindo desta relação não tem relação com suas atividades acadêmicas. Nós vamos tentar também entender conforme o registro do capítulo 11 e verso 3, que tipo de entendimento é este que se adquire apenas tão somente por meio da fé.


Os capítulos 11 e 12 desta epístola tratam especificamente sobre a fé. O 11 começa com uma espécie de parâmetro ou definição do que seja a fé. Ele chega a afirmar numa espécie de síntese entre a temporalidade de algo que ainda não se vê e a projeção ou prova do que se espera. Dessa maneira, o autor praticamente acaba com qualquer tipo de gradação consecutiva que resulte num evento escatológico. O evento numa escala progressiva do já se deu, e o ponto central é o evento em que Deus em Cristo se revela pessoalmente. Este evento está muito bem descrito no capítulo primeiro desta epístola e em seus versos iniciais (Hebreus 1:1-4). A partir do momento que o crente tem essa experiencia de encontro com Cristo, não há mais qualquer tipo de razão escatológica e qualquer tipo de doutrina dispensacionalista perde razão e sentido. A intencionalidade identificada aqui por aquele que narra, ocorre pelo tipo de fala que deve transigir no horizonte do espectador, melhor dizendo, daquele que faz uso do dom divino dispensado a todo aquele que crê e aguarda pelo cumprimento da promessa divina. Evidentemente que, para quem acompanha estas duas narrativas contidas nesses dois capítulos (11 e 12). Para aqueles que nutriam suas expectativas de cumprimento da promessa divina esboçada especialmente no capítulo 11. O cumprimento de tal promessa ocorre no exato momento em que o autor em seu processo narrativo conclui através dos versos 39 e 40 fazendo alusão ao ato soberano de Deus. Ou seja, eles não alcançaram a promessa de imediato. Por Uma simples razão, fé é um evento corporativo, o termo PISTIS que traduzimos por fé não faz sentido se estiver sendo enquadrado tão somente no âmbito do indivíduo. Para o autor desta epístola, os testemunhos de fé dos antepassados tem sentido porque são aperfeiçoados em nós, que também cremos.  


O efeito que doutrinas dispensacionalistas produzem neste tipo de congregação é praticamente nulo. Uma vez que, da forma como nos propomos investigar este texto, dimensiona ao crente que a forma como Deus cumpre suas promessas para com seu povo está na razão  direta de como essas promessas são perpetradas ao longo dos tempos. Elas também são o retrato da fidelidade divina renovada a cada geração que se levanta para direcionar de forma bem mais abrangente a doutrina conhecida por todos nós como escatologia.. Aliás, quando nos apropriamos do real significado e sentido do termo ESCATON, o qual dá origem ao que conhecemos como escatologia, a doutrina dos últimos dias. Ela é doutrina dos últimos dias por causa de seu efeito antecipatório. O que seria da fé se não tivéssemos também construído do ponto de vista hermenêutico esse caráter descritivo de fé, tal como o vemos nos versos 1 e 2 do capítulo 11? O conceito de temporalidade como mera observação dos movimentos progressivos do tempo e com ele todo tipo de escala de medição, e aferição tende a fazer com que achemos que tudo ocorre aleatoriamente. A fé da forma como estamos falando e que, segundo a própria escritura, afirma que é dom de Deus aos santos(Judas 1:3), é um espectro fenomenológico que nos remete à transcendência por meio da religiosidade. 


O ponto focal para a construção de um conjunto de princípios de natureza religiosa é o acervo de experiências que uma geração constrói, conserva e transmite à geração futura que a sucede. Uma geração faz declaração a outra geração no sentido de que ela ao reconhecer as proezas operadas por Deus, e aí estamos fazendo referência aos relatos do Antigo Testamento. Ela reconhece e louva pelo que ela mesma experimentou. Dessa forma transmite a outra geração(Salmo 145:4). A esperança e fé nutrida e levada a cabo por essa tão grande nuvem de testemunhas, constitui-se no ponto de referência para a construção de princípios norteadores da jornada desta geração rumo aos objetivos, desde que sejam cada vez mais claros e definidos. Por outro lado, essa nuvem de testemunhas está a mercê de nossa hermenêutica. Ela apenas será dinâmica e exercerá toda sorte de bênçãos sobre nossas vidas se não se configurar como uma formula hermeticamente fechada. E que comumente é chamado de depósito da fé e da revelação. Aí, então, pode surgir aquela pergunta por que devemos ficar e permanecer com a fé? Bem, queiramos ou não, muito embora tenhamos levantado algumas questões de natureza científica que, de certa forma, tentam depor contra a nossa fé. Ter fé não é pressuposto construído a partir de demandas racionais ou devidamente racionalizadas. Pelo contrário, ter fé significa que fomos agraciados com esse Dom divino. E está muito no âmbito de nossa postura enquanto detentores desse dom do que propriamente como resultado de nossas elucubrações e investigações passíveis de se tornarem objetos de nosso intelecto. Mas isto não impede que façamos uma busca por entendimento. Pelo contrário, a fé é o ponto de partida ou start para o que buscamos: “Fides quaerens intellectum”⁴. Por ela entendemos tal como o relato de Hebreus 11:3_κατηρτίσθαι_(Katērtísthai), que o que está estabelecido para sempre pela palavra de Deus, não tem aparência.

3Πίστει νοοῦμεν κατηρτίσθαι τοὺς αἰῶνας ῥήματι Θεοῦ, εἰς τὸ μὴ ἐκ φαινομένων τὸ βλεπόμενον γεγονέναι.



I - Porque vocês jamais se sentirão solitários. (V.1)


A alusão feita ao capítulo 11, comumente conhecido como o capítulo dos heróis da fé de que ali somos capazes de conferir tantos servos de Deus que jamais abriram mão de uma relação mais próxima com o Deus todo poderoso que se revela a Israel adotando-o como seu povo. Ao longo de toda essa narrativa em caráter progressivo até que se atinja o foco e ponto central da revelação conforme os primeiros versos e primeiro capítulo desta epístola: “Deus falou-nos pelo seu filho, o qual é também a expressa imagem de seu ser. É esse ato revelatório de Deus ao interagir com seu povo que ocorre paulatinamente ao longo dessa história de revelação que é capaz de arregimentar aqueles seguidores fiéis. Os quais compõem o quadro dessas testemunhas. O ato de fé deve ser o mesmo entre nós. A fé como princípio fundamental é norteador de toda nossa trajetória de vida. O exemplo que se destaca na experiência de fé dessas pessoas no passado deve ser seguido pelas gerações que sucedem. Apenas dessa maneira podemos dizer que não estamos sozinhos. Um outro detalhe que deva ser destacado neste momento. É o fato de que, em algumas situações, e ao nos desgarrarmos de qualquer rebanho que façamos parte, bate um sentimento de abandono. E quando falo em rebanho, não quero nem desejo entrar naquelas discussões acerca de certos moralismos. O desgarro aqui é no sentido de não termos com quem dividir os nossos problemas e dificuldades. Porém, se o sentimento surge em decorrência de algum desvio de toda sorte deste mesmo rebanho, há neste caso, um conforto e consolo por conta dos testemunhos de fé que encontramos neste texto em especial. Eu vejo, nas maioria das vezes, nos pregadores a tentativa de privilegiar alguns autores bíblicos em detrimento de outros. Notem bem, não faço isso no sentido de condenar os pregadores. Digo mais, provavelmente o apóstolo Paulo é o autor mais lido e mais pregado na Bíblia. E há uma explicação plausível para isto. É ele quem mais produziu epístolas em o Novo Testamento. Algumas delas como Romanos, I e II de Coríntios, Gálatas, Efesios entre outras, figuram como documentos importantíssimos para a reconstrução do contexto histórico da Igreja no primeiro século.


A questão da solidão surge pelo fato de não sermos capazes de dialogar numa perspectiva de modo retroativo com os vários autores e as respectivas tradições a que eles estão ligados. E porque que esta é uma das principais dificuldades que encontramos quando buscamos do ponto de vista histórico neste período o que se sucede na história do Cristianismo desde o desaparecimento do último dos apóstolos, falamos de João evangelista, e de lá pra cá, o que encontramos em um ou outro teólogo protestante são algumas investidas e inserções neste período, porém bastante tímidas. Não resta dúvida de que sofremos uma grande influência a partir do período reformador. E parece que a história do evangelho começa a partir desse período de Reforma Prostestante. Essa nuvem de testemunhas limita-se a apenas aqueles nomes listados no texto e corpo desta epístola. Nossas hermenêuticas, sem distinção de uma ou outra, são limitadoras e inibidoras da possibilidade de também nos fixarmos em outras personalidades que tenham se destacado como vidas dedicadas ao serviço da casa de Deus. Isso faz com que exista um vácuo, ou solução de continuidade e fica parecendo que Deus não tem mais agido em favor de seu povo. Uma das principais críticas feita às denominações de origem protestantes diz respeito, devido ao princípio reformador ‘Sola Scriptura’, a este fenômeno conhecido como ditadura da palavra. 


Enfim, e isto é ponto pacífico, sabedores que somos de que estamos rodeados por uma grande nuvem de testemunhas, ainda há algumas obrigações de nossa parte que devem ser observadas. Há embaraços e empecilhos sobre os quais devemos nos desvencilhar e ao mesmo tempo que tomamos ciência do exemplo dessas testemunhas. Elas servem de conforto e alento para todos que ainda temos uma carreira pela frente. Porém, não nos esqueçamos que o pecado também nos rodeia. É o que esta epístola também nos adverte. Nesta situação, tal qual o primeiro verso deste capítulo relata, superar todo e qualquer tipo de empecilho e o próprio pecado já não deve ser algo que independe de nossa força de vontade. E o argumento que tem como base essa tão grande nuvem de testemunhas reforça a ideia de que o pecado, pela graça divina alcançada em Cristo, já não tem qualquer tipo de poder sobre nós. 


Ao nos depararmos com o desafio de fazermos uma leitura que seja equilibrada da Bíblia. Percebemos também que a Bíblia não é para ser manuseada por amadores. Isto não significa, em hipótese alguma, que nossa intenção seja aquela de limitar o seu uso ou manuseio por determinadas classes de pessoas. Principalmente aquelas pessoas que se dizem letradas. Dotadas de uma capacidade ímpar de entendimento e que esteja também apta na produção de texto. A Bíblia existe para ser manuseada em leituras comunitárias e populares. Mas, também não negar que nela há sim níveis de leituras. E precisamos ter consciência desses níveis e de como eles na forma se apresentam em seus processos dinâmicos que demandam de nossa parte uma habilidade maior de ao lermos o texto, sejamos capazes de reproduzi-lo de uma maneira que seja a mais fiel possível àqueles que recebem a palavra. E ao recebê-la aqueles para quem a palavra esteja sendo endereçada,  a receba como palavra de Deus. Por conta disso, esquecer todo é qualquer conceito que remete a um mero sentimento de contemplação. Pois não é disso que estamos falando. Ao fazer alusão ao fato de que eventualmente possamos sucumbir à tentação de que a experiência de vida cristã se limite apenas ao conceito de contemplação como o ápice daquilo que Deus tem proposto para nós.  


No capítulo 3 do Gênesis quando por ocasião da queda do homem, ali o sentido da contemplação como desejo de se alcançar conhecimento e através dele alcançarmos o patamar de igualdade em relação a Deus, nosso criador. Foi sim.uma realidade. Após o diálogo com a serpente. Onde a serpente convence a mulher que nenhuma outra consequência haveria para o homem senão a conquista dessa paridade com Deus. A principal consequência adquirida após esse convencimento, foi o fato de que a mulher ao contemplar novamente a a ‘Árvore da Ciência do Bem e do Mal’: “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.”(Gênesis 3:6). Há um fundo mitológico de como essa narrativa é construída, e diz respeito aquela ideia de que o conceito, ou a sua busca incessante acaba por petrificar o homem. É assim que acontece com o mito da medusa onde todo e qualquer ser vivo que a contempla é passível de virar uma estátua⁵. O fato de que no caso da narrativa bíblica nós não nos encontrarmos na condição de solitários, por causa dessa nuvem de testemunhas. Aí sim temos grandes condições de enfrentarmos esses desafios. Enfrentamos deixando de lado o embaraço e o pecado que ainda tenta exercer algum tipo de relevância sobre nossas vidas.  



II - Porque a fé não se limita ao conjunto de fatos ou situações aleatórias.(V.V. 2-4) 


Já fizemos menção ao capítulo 11 ao alcançarmos o fato de que lista os nomes daqueles que se constituíram como testemunhas dos atos de Deus a favor dos seus servos e de como estes mesmos servos permaneceram fiéis a Deus apesar das dificuldades e perseguições pelas quais muitos padeceram. Como vimos no primeiro verso deste capítulo 12. O pecado já não se constitui mais como empecilho ou embaraço já que dispomos, como um ato providencial de Deus, da obra de redenção realizada por Cristo. Por conta disso,  o autor o chama como aquele que efetivamente é o autor e consumador da fé. A fé somente existe se for o instrumento pelo qual nos apoiamos em Cristo e nele nos miramos com o objetivo de alcançarmos a plenitude da vida na eternidade. É necessário afirmar em tom categórico que a fé não é um comportamento tipicamente humano e atrelado à performance e desempenho deste homem. Ela se instrumentaliza de uma maneira claramente corporativa, coletiva e, tratando-se de igreja, comunitária.


A fé na cadeia lógica de desenvolvimento do tempo é o elemento que dá sentido a tudo mais quando o assunto é nossa carreira cristã. O relato de cada uma dessas testemunhas e a maneira como em sua respectiva época e contexto fez da sua vida uma vida de testemunho do quanto Deus fora fiel para com cada uma delas. Se percebermos como o autor dispõe na apresentação dos nomes: Abel, Enoque, Noé, Abraão, Jacó, José, Moisés, por conseguinte o início  da saga de entrada na terra prometida. E o fato de Moisés, muito embora tivesse sido criado e educado no interior do Palácio de Faraó, em um momento de sua vida e através da fé recusou-se a ser chamado filho da filha de Faraó. Ele escolheu antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado. O que é mais interessante é a forma como o autor relaciona Moisés com Cristo: “Tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa.” (Hebreus 11:26). O resultado como efeito de uma abordagem tipicamente que visa um olhar histórico e existencial. Ou seja, o lado histórico do texto ocorre quando o autor ao elencar no texto essas diferentes personalidades em diferentes épocas e contextos, porém que emergem tendo um fundo existencial que projeta para cima e para frente a concretização de uma promessa. Ao fazer alusão ao fato de que o autor vincula a figura de Moisés a de Cristo. No texto ocorre a guinada de relato dessa saga de testemunhas. Num primeiro momento, dispõe de tradições um tanto quanto ligadas à ancestralidade, haja vista, que se buscarmos indícios arqueológicos e históricos desse tempo. Em algum momento dessa busca ao retroagirmos no tempo veremos que o tipo de materialidade para tanto se resumiria a algumas tradições orais compiladas em uma cultura de povos que já se extinguiram. Vide o exemplo da civilização suméria de onde provém o patriarca Abraão. 


A fé tem essa característica de não se limitar ao conjunto de fatos ou situações aleatórias por conta de seu caráter definidor de sentido. E isto acontece porque ela também é uma dádiva divina. Em meio a relevância do caráter redacional do texto dessa epístola. Temos a consciência de que quem dirige a história é o próprio Deus. A forma como Deus dirige a história é, na maioria das vezes, recusada por aqueles que se acham agentes de suas próprias vidas e destino. Chamamos esta atitude de desobediência. Podemos também nominar de INCREDULIDADE. Do que mais poderíamos chamar de incredulidade se não de falta de abertura para o sobrenatural. O sobrenatural é a estrada por onde Deus atua a favor e consequentemente também contra o ser humano. Aqueles que foram vocacionados pelo próprio Deus para se constituírem em suas testemunhas diretas para a comunicação com os homens, nem sempre foram bem sucedidos. E por um motivo que a própria epístola aos Hebreus explica: "Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram.” (Hebreus 4:2). Logo, é a fé que empresta sentido às nossas palavras, às nossas próprias vidas. Sem ela o mundo é um conjunto de fatos ou situações aleatórias.


Tudo bem que a fé que empresta sentido a tudo. Tudo que efetivamente diga respeito a Cristo Jesus. É Cristo Jesus que potencializa o que chamamos de fé. É em função dessa afirmação que trago a luz para efeito aquela afirmação do autor da epístola no capítulo 11:40; “pra que eles sem nós não fossem aperfeiçoados.” Quando já no capítulo 12 e verso 2 constatamos que o autor direciona de maneira mais concreta a nossa relação com Cristo. Dando nos conta que é nossa obrigação nos livrarmos de todo embaraço é do pecado que tão de perto nos rodeia. E nos desvencilhando desses entraves seguimos para a carreira que nos está proposta. Fitando os olhos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. E aí então, a referência passa a ser uma relação mais efetiva e concreta com o sacrifício vicário do filho de Deus. O autor enaltece o sofrimento de Cristo. Já que foi proposição divina que passasse por tal padecimento. Com tal obra logrou alcançar o trono da majestade. O exemplo do sacrifício de Cristo por conta desta missão que lhe foi dada pelo Pai, não é uma prerrogativa apenas sua. Todos aqueles que o seguem também estão propensos e passíveis de serem submetidos ao martírio. Ao mesmo tempo, o autor chama os crentes a reflexão no sentido de que eles devem considerar aquele que suportou todas as afrontas dos pescadores contra si próprio sem desfalecer. A advertência do autor assinala que os crentes ainda não resistiram até o sangue por causa do pecado, à semelhança do próprio Cristo. Ou seja, a carreira de vocês ainda está no meio do caminho. E ao que parece alguns desses crentes já dão sinais de que estão baixando a guarda. E seguindo a advertência vem também a correção divina. Que é o que veremos a seguir.



III - Mesmo com a fé que é dom divino, somos passíveis de correção da parte do Senhor(V.V. 5 - 11)


É também através da fé que adquirimos a condição de filhos. Como filhos somos passíveis de correção. O autor é capaz de trazer à memória dos crentes esta condição. Nos colocamos nesta situação que condiciona ao fato de que Deus como Pai tem o direito de fazer a correção  e Ele assim procede por ser um pai amoroso. Não devemos nos desesperar quando a correção vier da parte do Senhor. O Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe como filho. É o que afirma o verso 6. É nossa obrigação suportar a correção do Senhor com humildade. Pois se Ele assim nos trata é porque estamos na condição de filhos e não de bastardos. É uma maneira de nos prepararmos para uma herança que nos foi prometida. Caso não aceitemos a disciplina do Senhor significa que somos filhos rebeldes e bastardos e não temos parte na herança. O autor ainda afirma, que filho há que o pai não corrige? Se estamos sem disciplina, da qual todos nós fomos feitos participantes, então não somos filhos.


O autor agora se vale da analogia dos pais segundo a carne, em que todas as vezes que por eles fomos ou somos corrigidos ainda assim os reverenciamos. Não deveríamos então mais ainda nos sujeitar ao Pai dos espíritos para vivermos? A relação de submissão por sermos filhos fala muito aos nossos corações. O viés para se argumentar a favor desse ato de submissão está ligado ao fato de os nossos pais, segundo a carne, serem reverenciados, como forma de reconhecimento de sua autoridade legítima sobre nossas vidas. Queiram ou não, os críticos da família no tocante a atribuição de que nas narrativas bíblicas o foco central é a família tradicional. O fato é que a relação de submissão aos pais gira em torno da obediência e em reconhecimento de que eles são os doadores de nossas vidas(Genitores). Assim como aqueles que cuidam de nós quando nos encontramos naquela fase de indefesos. O mandamento divino ensina no sentido de que devemos honrar os nossos pais e de que este é o primeiro mandamento com promessa(Efesios 6:2-3). E a promessa conforme o registro do verso 3, é de que teremos uma vida longeva e de felicidade sobre a terra. Mas, não pensemos que isto está na razão direta de nossa relação com Deus, a qual é mediatizada pela fé. 


A questão que se levanta se concentra no fato de um argumento lógico. Se somos passíveis de submissão aos nossos pais. O texto ainda destaca de maneira a desvincular essa ideia de moralidade e de discernimento dessa moralidade. Já que ao se referir a forma como os nossos pais nos corrigiam, segundo o autor, como bem lhes parecia. Porém, com relação a disciplina e correção divina é para nosso proveito. Pois o objetivo é de sermos participantes da sua santidade. A correção ou educação por meio da disciplina oriunda das experiências de família não são por assim dizer produtora de santidade, muito de uma moralidade como muitos apregoam por aí. Assim como a correção presente não tem a aparência de gozo ou alegria. Pelo contrário, sua aparência é de muita tristeza. Porém, o resultado no médio e longo prazo é um fruto pacífico de justiça. Em outras palavras, é a maneira com que Deus em Cristo Jesus infunde os seus atributos, isto é, aqueles que são passíveis de transmissão como: Amor, Santidade, Justiça.



IV - É também a fé que promove a ação de graças(V.V. 12 - 16)


Temos que estabelecer alguns parâmetros aqui nesta palavra. Primeiramente precisamos entender que sem fé não temos como agradar a Deus. Sequer temos como nos aproximar Dele. Muito menos nos tornarmos capacitados em levantar nossas mãos em ações de graças. A exortação do autor fala de tornar a levantar as mãos cansadas e dobrar nossos joelhos. O autor assinala que isto em algum momento do passado desses crentes já havia acontecido. De alguma maneira precisamos entender que mesmo ao nos libertarmos dos pecados, este pecado continua a nos rodear. De acordo com o primeiro verso deste capítulo a condição para não nos tornarmos presa fácil do pecado que vive a nossa espreita, é continuarmos com os olhos fixos em Cristo. Nossa resiliência precisa ser lembrada e é o que o autor faz. Ele faz menção de nossas mãos cansadas e de nossos joelhos desconjuntados. O cansaço físico ou algum tipo de distrofia física, nada disso é, ou pode se tornar empecilho. Algumas vezes celebramos em nossas vidas ditados e adágios populares. E muitas vezes são reputados como sabedoria popular. Eles também são passíveis de algum tipo de crítica: “Deus escreve certo por linhas tortas”, este é um exemplo e espero que fiquemos somente com este por hora para nossa reflexão. O maior exemplo bíblico que depõe contra este ditado popular foi a missão que João Batista recebeu do Senhor conforme aquela profecia registrada no livro do profeta Isaías 40:3 e depois registrada em Mateus 3:3; Marcos 1:3; Lucas 3:4; João 1:23.  


O que precisamos como necessidade urgente para efeito de entendimento sob pena de estarmos sempre sendo penalizados por algum erro de avaliação que são as muitas hermenêuticas equivocadas. É nos conscientizarmos de que se trilharmos terrenos acidentados há uma forte tendência de também nos acostumarmos com este tipo de terreno. Isso pode causar algumas lesões que deixam, por exemplo, joelhos desconjuntados, ou que podem fazer, devido a esforços desmedidos, com que as nossas mãos fiquem cansadas. O pecado nos desfigura, nos atrofia, faz com que as nossas mãos por conta do excessivo esforço físico fiquem cada vez mais cansadas. Nada disso é motivo para nos acomodarmos e aceitarmos a derrota. O autor nos versos 4 e 5 chama a atenção para o fato de que ainda não resististes até ao sangue combatendo o pecado e já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos. Ele faz questão de lembrar da condição que nos encontramos a partir do momento que temos Cristo como Senhor de nossas vidas. 


Não são as nossas atrofias que fazem com que nos locomovemos com certas dificuldades. Não são nossas mãos cansadas os reais motivos que fazem com que nos enveredemos por terrenos tortuosos. É a consciência moral e restauradora de nossa relação com Cristo que deve fazer com que possamos construir caminhos de virtudes e de fé. Eles nos conduzem através da fé para a santificação. E a fé é tanto uma condição para nos aproximarmos de Deus assim como é a santificação orientada pela fé que nos coloca numa condição em que tenhamos a plenitude de contemplarmos ao Senhor. Por isso a exortação de que devemos seguir a paz com todos e a santificação sem a qual ninguém verá o Senhor. Temos a obrigação moral de fazer com que nossas veredas sejam direitas. Apenas e tão somente deste jeito não seremos privados da graça divina. E mesmo brotando qualquer tipo de raiz de amargura que ela não nos perturbe. Ainda não estamos imunes a tudo que o pecado pode provocar quando falamos em danos. E a advertência a que não sejamos devassos como foi Esaú, advertência que mostra que ele foi capaz de trocar sua primogenitura por uma refeição. Temos neste caso o exemplo de Esaú como um exemplo negativo. E é realmente um exemplo negativo. A atitude de Esaú depõe contra tudo que temos falado até agora. E percebam que no capítulo 11 quando o autor fala daqueles personagens tidos como heróis ou exemplos de fé. Eles estão ali por serem exemplos positivos. Porém, quando adentramos o capítulo 12, também temos ciência dos perigos que corremos e por isso somos advertidos. E o exemplo de Esaú é aquele tipo de exemplo que em hipótese alguma deve ser seguido.  



Conclusão 


Temos chegado ao término desta reflexão e a minha principal preocupação é no sentido de que tenhamos aprendido a mirar as nossas vidas e a carreira que nos foi proposta por Deus em Cristo Jesus, e  de que não devemos esquecer aqueles que vieram antes de nós. Muitos outros também foram testemunhas dessa maravilhosa graça. Por isso elas são aqui identificadas como nuvens. E a memória delas devem sim povoar as nossas mentes. Quem de nós não traz na lembrança a memória de um ente querido que tenha sido exemplo de fé. Às vezes, não são parentes e sim pessoas que se tornaram próximas de nós por causa do amor que tinham pelo evangelho. Quando penso dessa maneira a minha vida e memória não me remetem a apenas aquelas pessoas listadas no capítulo 11. Eu dimensiono, melhor dizendo, redimensiono a abrangência dessa mensagem relatada no texto a todas aquelas testemunhas fiéis que contribuíram com suas vidas e até mesmo com o sacrifício para que o evangelho chegasse até nós nestes tempos que nos encontramos. Esta epístola é um bom exemplo de relato que nos ajuda a que também possamos reproduzir o mesmo comportamento que seu escritor tem nos mostrado. E o comportamento é aquele que nos remete a lembrança de todas aquelas pessoas que foram importante para nossa carreira cristã. Quantas vezes fui realmente tocado por Deus através de pessoas que realmente se importavam comigo. Na minha trajetória de vida e de caminhada com Cristo, tenho tantas pessoas em minhas memórias que contribuíram para que também pudesse ser exemplo de fé para os outros e sou muito grato pela vida de todos eles. Apenas não me sinto à vontade para fazer menção  de seus nomes. Porém, se tem um nome que posso citar dentre tantos outros é o de minha mãe. Ela foi a responsável direta pela minha educação. Foi ela que me alfabetizou em casa assim como a todos os meus irmãos. Era ela que nos levava para a igreja. E ela também o instrumento usado por Deus para a minha conversão. Poderia continuar falando de suas qualidades e de sua grande importância para todos nós, os seus filhos. E se tem um versículo que faz a Ela, a seu caráter e personalidade é aquele texto de Provérbios 31:10: Mulher virtuosa quem a achará? O seu valor muito excede ao de rubis.”










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¹SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguistica Moderna. São Paulo, Cultrix, 2006. p.27


²TILLICH, Paul, Teologia Sistemática. São Paulo, Ed. Paulinas; São Leopoldo, Sinodal. 1984. p. 67.


³POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo, Cultrix, 1972. p. 51.


⁴LEONOR, M. A questão de deus na história da filosofia. p. 108.


⁵Medusa uma das três irmãs górgonas. A Medida dentre as irmãs também górgonas era a única que não era imortal. Carregava a maldição de quem morasse com os olhos em sua direção eram imediatamente petrificados.


* In-text citation: Nota de rodapé, letra ‘e’, do capítulo 1, verso 3, da Epístola aos Hebreus, p. 1559(A Bíblia De Jerusalém, 1973)




 

Por que um padre e não um pastor?

 Por que um padre e não um pastor?



Chegou ao conhecimento do público e com tamanha notoriedade nestes últimos dias, e tem causado um desastre de proporções inimagináveis ao  panorama político brasileiro a notícia de uma trama golpista. A sociedade brasileira foi bombardeada por revelações de uma teoria conspiratória desbaratada pelos agentes públicos e operadores do direito. Tal teoria conspiratória articulada na época pelo então, e agora ex-presidente da República. Naquele exato momento, caso as previsões de derrota acontecessem, e elas aconteceram, o objetivo era não reconhecer o pleito que elegeria o próximo presidente. Isto significaria que a vaca da reeleição foi pro brejo. Pois bem,  a vaca foi realmente pro brejo. E, segundo alguns analistas, a baderna de 08 de Janeiro de 2023, foi a última tentativa no sentido de subverter o resultado das urnas. Mesmo que o atual presidente já empossado estivesse no pleno exercício de seu cargo.


Esse breve relato do atual momento político do país deixa muito a desejar devido ao fato de que as investigações tocadas até aqui e divulgadas pelos órgãos de imprensa ainda são muito incipientes e por esta razão, ao passarem pelo crivo das mídias de um modo gera,l são passíveis de toda sorte de manipulação. Entretanto, e com base nas informações até aqui disponíveis, é o que se tem de material para eventuais apreciações pela sociedade civil. Neste caso, em especial, e sob a perspectiva temática que proponho me debruçar pelas linhas a seguir. A preocupação que aqui será esboçada não busca oferecer mais um texto caracterizado por um relato jornalístico. O objetivo aqui é tão somente buscar algum tipo de entendimento quanto a participação de um membro desse grupo conspirador e ilustre representante da sociedade civil. Mais especificamente sobre a participação de um clérigo na urdidura de tal teoria conspiratória.


O clérigo em questão é o  padre José Eduardo de Oliveira e Silva, sacerdote da Diocese de Osasco(SP). Conforme as investigações da PF, consta a informação de que em 19 de novembro de 2022 ele se fez presente em uma reunião no Palácio do Planalto. O objetivo da reunião era a discussão de uma minuta golpista que impediria a posse do presidente eleito. Mas, a questão que continua e é sobre ela que proponho redigir este texto é: Por que um padre e não um pastor? Uma coisa que não se pode negar é o elemento combativo e contundente de algumas lideranças do ramo conservador tanto evangélicas quanto católicas contra uma certa legenda de esquerda. Pastores, padres e até mesmo alguns bispos. Daria para listar aqui alguns nomes de católicos e protestantes, digo, evangélicos. Pois eles estão sempre ocupando as mídias bem como espalhando suas mensagens de teor  conservador. Nada contra, se é que estamos no gozo de um Estado democrático de direito.


Por outro lado, a percepção que passa quanto a difusão de ideias conservadoras é de que o setor mais conservador e reacionário dos evangélicos tem sido muito mais combativo do que a ala conservadora católica. Basta darmos uma checada nas mídias sociais para se constatar todo esse protagonismo midiático entre os evangélicos. A figura do ex-presidente, embora tenha se declarado católico apostólico romano, ao que parece, o seu “Curral Eleitoral” exibe uma vasta representatividade entre os evangélicos. Não se pode esquecer que durante o governo passado, a presença de lideranças evangélicas que assumiram cargos no primeiro escalão do governo desde ministérios no contexto do poder executivo até ministros do supremo terrivelmente evangélicos. No legislativo, há muito mais tempo se percebe a presença e influência cada vez mais crescente de lideranças evangélicas. 


Quando aquelas pessoas que se dizem patriotas começaram a se entrincheirar nas portas dos quartéis, o clamor era sempre com o objetivo de que as forças armadas pelo uso da força que, a rigor existe para a manutenção da ordem, não cumprisse com o papel que o princípio constitucional lhe outorga. Ser garantidora da ordem constitucional. Esse tal clamor popular pela tomada de poder através das forças armadas brotava principalmente nos redutos evangélicos. É até natural que esse protagonismo clamando por uma intervenção militar tenha sido mais contundente entre os evangélicos. Afinal, a cadeia de comando e de poder entre eles é muito mais simplificada do que entre os católicos. A relação do evangélico com o seu pastor é direta e simplificada. Diferentemente da relação de poder na perspectiva católica e romana. Estamos falando de catolicismo desde uma relação institucional e do que podemos depreender enquanto aqueles que estão de fora. Logo, não se constitui numa crítica à dinâmica interna da relação ovelha-pastor. 


A primeira vista, a presença de um padre e não a de um pastor, não deveria causar muita surpresa em nenhum de nós já que estamos nos referindo a duas autoridades religiosas e eminentes representantes no segmento religioso da sociedade civil. Poderia ser, neste caso, um rabino, um sheik, um monge budista, etc. Mas, o que chama a atenção é o assunto que motivou tanto o convite quanto a adesão ao convite por parte do pároco. A alegação no corpo de investigação da PF era o assunto a ser debatido. Uma minuta acerca das razões ou motivos que estava levando aquelas autoridades a se insurgir contra um sistema que quatro anos atrás os tinha conduzido a dirigir os rumos do país. Do ponto de vista histórico, teológico e até mesmo político ter a figura de um pároco católico para dar sustentação ou chancelar os atos conspiratórios tem uma relevância muito maior do que teria caso em substituição a este pároco estivesse um pastor.


O padre José Eduardo é um palestrante e acadêmico. Dentre sua vasta formação acadêmica há que se destacar seu doutorado em teologia moral pela Università de la Santa Croce. Mas, em que consiste os estudos no horizonte da teologia moral? Fundamentalmente é um ramo da teologia que concentra suas pesquisas no comportamento humano em relação aos seus princípios morais e éticos-religiosos. E aí precisamos entender que em tempos como os que estamos vivendo e testemunhando, a retórica de um discurso de moralização das instituições através do combate à corrupção. A acusação de que a cada dia que passa o liberalismo religioso e antidogmático tem revelado e ampliado os seus tentáculos. Os grupos de defesa da família e dos princípios que sempre nortearam a formação de uma moral cristã tendo como base a cultura judaico-cristã cerne da civilização ocidental. Reagiram a tudo isto, e elegeram como os responsáveis pela instauração desse caos moral e consequentemente espiritual, toda e qualquer onda esquerdista. Mesmo aquelas que se constituem em representações autênticas  de movimentos sociais. 


Não resta dúvida que se realmente houve, nos bastidores de nossa vida republicana, toda uma trama golpista que poderia ter nos levado ao caos social, a perda de vidas e a elevação ao poder, com ou sem a aprovação por meio do sufrágio universal do grupo político que se articulava por meio de jogo sujo, sórdido e desprovido de todo e qualquer senso de responsabilidade civil. Em algum momento, alguns dos elementos de construção, caros a formação de nossa sociedade teriam que ser exibidos como pilares de sustentação para essa aventura golpista. E nada melhor do que a religião. De uma maneira mais específica, nada melhor do que a figura de um clérigo religioso, representante de uma instituição acostumada ao poder. Que em seu passado milenar sempre esteve, em algumas épocas da história mais, em outras menos, porém sempre associada ao braço político do estado¹. É sintomático também a especialização em teologia moral do padre José Eduardo. Até porque o discurso de regimes autoritários na história do Ocidente, à exceção do nazismo, sempre foi pautado pela moral e os bons costumes². Para tanto o discurso religioso e ultra-conservador se encaixavam como uma luva nessa onda golpista com ares de legalidade.


É também evidente que a intenção de se fazer menção dessa instituição religiosa e milenar, o catolicismo, não tem por objetivo envolver tal instituição nessa teoria golpista. O objetivo é tão somente circunstanciar esse arcabouço histórico, político, cultural e religioso em que esta instituição, por ser milenar, vivenciou, testemunhou assim como também participou diretamente(São dois mil anos de historia). Sinalizaria, por outro lado, que nessa aventura golpista existiriam ilustres representantes de uma instituição séria e milenar. Sinalizaria também, do ponto de vista da ação propriamente dita de militares, que, num primeiro momento, o nível de insatisfação da tropa se concentrava apenas ao conjunto de comandados e oficiais de baixa patente. Todavia, caso o movimento crescesse aí sim poderia haver uma participação mais direta e pública dos oficiais generais. Uma vez que estamos conjecturando uma gama de possibilidades dessa aventura golpista, parece que a impossibilidade de que essa aventura chegasse às vias de fato, consagrou a própria incompetência de seus idealizadores, desde a articulação até sua execução. Assim como é fato de que não existe adesão popular para tal insanidade. Não há aqui nenhum tipo de clamor popular. O que há aqui é a insatisfação de alguns setores da sociedade, dentre os quais se destacam aqueles mais abastados. Se eventualmente for provado o envolvimento desse clérigo católico. Isto sinaliza um respaldo daqueles setores do catolicismo com viés extremista, ultra-conservador, xenófobo, misógino e racista.


Todavia, ainda assim, é preciso entender o porquê da participação desse clérigo. As informações que nos chegam até este exato momento(15/02/2024), limitam-se apenas ao envolvimento do padre José Eduardo. E mais uma vez quero deixar claro que o objetivo aqui não visa um linchamento público de sua pessoa, muito menos acusar a instituição religiosa que representa. Entretanto e conforme documentos da igreja, ou seja, as suas bulas, cartas pastorais e etc. Instrumentos pelos quais a instituição se manifesta publicamente³, não a sociedade civil de uma maneira generalizada, porém ao rebanho. Quando existe tal manifestação pública ela ocorre por meio do Sumo Pontífice, ou por alguma autoridade pertencente à hierarquia do clero romano. Tudo, porém, sob a chancela do Sumo Pontífice. E é pela via desses documentos oficiais que se concentram as fontes para respaldar algum tipo de aprovação para o que chamamos de atos golpistas. Nestes documentos pode se encontrar aqueles artigos que condenam a Maçonaria⁴, o comunismo⁵, assim como a liberdade religiosa⁶. 


É evidente que minha preocupação não busca uma detalhada lista de referência a estes documentos históricos e acessíveis a todos. Por outro lado, fazer menção de sua existência, poderia, neste caso específico, ser a justificativa mais plausível para responder ao questionamento que tem norteado a produção deste texto. É perceptível em ambiente católico mais conservador a forma como reagem à relação histórica com o protestantismo. Não há, por exemplo, qualquer tipo de dúvida quanto a um entendimento sobre o termo Reforma Protestante no seio do catolicismo. O que há, é o entendimento de que o que houve no século XVI desencadeado pela Reforma Luterana foi um grande Cisma, assim como todo e qualquer protestante são literalmente uns revolucionários. 


Considerando a hipótese de que realmente aconteceu essa trama golpista, acho que os seus articuladores embora tenham mostrado toda sorte de incompetência na execução dessa trama, acertaram ao escolher um padre e não um pastor. Pois, qual era o objetivo senão a restauração da ordem, da moral(religiosa), dos bons costumes. A preservação da vida(claro, quando o assunto é aborto). Evangélico nenhum deve pensar que essas pautas são suas, pois não são. Elas fazem parte de um documento compilado no seio do catolicismo denominado doutrina social da igreja⁷. Logo, foi, de certa forma, respondida a questão norteadora e foco principal desse texto. Entretanto, dela decorre, se considerarmos a hipótese de que tal argumentação possa eventualmente se tornar  num projeto de pesquisa acadêmica, a partir de um problema central que aqui nos propusemos debater. Se há a evidência de um problema central, de igual modo deve haver uma hipótese central, que como já disse, aqui foi respondida. 


Falta porém o desdobramento, ou o corolário dessa hipótese central. É desta forma que naturalmente deverá haver, metodológica e academicamente falando, a mudança de foco neste texto. O objetivo é tentar entender o grau ou nível de participação daqueles setores do evangelicalismo brasileiro que participam de forma cordata, ou contundente, e são signatários dessa trama golpista. Principalmente quando aludimos dentro deste segmento, aos grupos evangélicos com viés pentecostal ou neopentecostal. Os outros setores mais ligados às denominações históricas, não fazem tanto barulho e até se silenciam. Porém, o silêncio deles tem posição. Imaginemos um tabuleiro de xadrez e a maneira como suas peças estão dispostas. Na linha de frente encontramos os peões. Vale dizer que são as primeiras peças a serem tiradas do jogo. Elas estão ali para serem sacrificadas na defesa das outras peças mais importantes como a torre, o cavalo, o bispo, a rainha e principalmente o rei. Pois se você perde o rei, significa que o jogo está perdido. Os evangélicos, desde sempre, no jogo político desse país, estão sempre sendo colocados na linha de frente como se fossem os peões do tabuleiro de xadrez. O maior exemplo para respaldar este argumento estão nas razões que levaram os idealizadores desse golpe a chamar e consultar um pároco e não um pastor.  


E  pensar que na dinâmica histórica de relação entre catolicismo e protestantismo, do ponto de vista de suas posições religiosas e dogmáticas, ambos coexistem mais ou menos e de forma pacífica. Porém, a existência de um compromete a existência do outro. Se pensarmos desde uma perspectiva católica e ultraconservadora, não existe qualquer possibilidade de convivência entre ambos, pelas razões já expostas e celebradas por documentos já referenciados. O protestante é o herege e infiel que foi capaz de causar um cisma e esta ferida não está até hoje cicatrizada. E se no passado foi a forma truculenta e desmedida com que lidaram com aquilo que chamamos de heresia, não esperemos que esse tipo de conduta seja algo que não possa se repetir uma vez mais entre nós. O lado institucional desse catolicismo ultra conservador tem na figura do padre José Eduardo  um discurso conciliador. Ele participa de encontros com evangélicos pelas mídias sociais deste país. Mas, não nos iludamos. Ele é um representante desse catolicismo ultra conservador de onde também surgem leigos com uma forte relação com alguns políticos ligados à extrema direita.


Olhar a figura desse clérigo como foi feito no parágrafo anterior destacando seu caráter conciliador uma vez que tem bom trânsito entre alguns influenciadores e pastores dessa nova cara do mundo gospel brasileiro. Que acena com a bandeira de alguns princípios defendidos por ambos os lados tais como a luta contra o aborto, contra o comunismo, etc. Apenas mascara os grupos que ele representa no meio católico. Talvez fosse o caso de se fazer algum tipo de recomendação no sentido de que esse novo mundo gospel brasileiro visitasse algumas leituras como a “Confissão de Fé da Guanabara"⁸. E quem sabe até investigarem com bastante esmero e acuidade alguns eventos históricos que sucederam no velho mundo: “A guerra dos trinta anos⁹ e a noite de São Bartolomeu”¹⁰. 


Ao que parece, a escolha desse pároco como consultor de uma provável minuta golpista deve ser entendida tendo como pano de fundo um arcabouço histórico dimensionado por embates seculares entre católicos e protestantes. Ele dimensiona também no plano político, social e ideológico que, se tal urdidura de golpe realmente aconteceu, os verdadeiros beneficiários de tal trama são aqueles que nunca se alijaram do poder. Que ocuparam posições estratégicas no tecido social brasileiro, muito embora, no plano político tenha acontecido, aos trancos e barrancos, a alternância de poder. O descontentamento passa a existir a partir do momento que alguns destes que ocupam a cadeia de comando do país são capazes de fazer com que a nação veja algo mais do que o que os governantes até então faziam.  


O ex-presidente da República, embora tenha se declarado católico, nunca abriu mão do expressivo e barulhento curral eleitoral entrincheirado dentro das igrejas evangélicas. O voto não é para ser descartado seja lá de onde vem. Há um primeiro elemento do ponto de vista de uma democracia representativa e se esboça pelo caráter quantitativo. Mas, o voto tem cor, sexo, ideologia e tantas outras atribuições que queiram aplicar. O grande e célebre Umberto Eco publicou um de seus mais primorosos textos. Ele trata do fascismo e tem um texto intitulado "Fascismo Eterno”. Em algum momento de seu texto, Eco afirma que nem fascismo, nem nazismo, em sua forma original, seriam capazes de mobilizar uma nação inteira. E foi o que esses movimentos fizeram no passado. Por outro lado: 

         “Embora os regimes políticos possam ser derrubados e as ideologias criticadas e destituídas de sua legitimidade, por trás de um regime e de sua ideologia há sempre um modo de pensar e de sentir,  uma série de hábitos culturais, uma nebulosoa de instintos obscuros e de pulsões insondáveis. Há então um outro fantasma que ronda a Europa(para não falar de outras partes do mundo)?” ¹¹

     

Se por um lado, podemos identificar o nazismo como um regime pagão, o fascismo já apresenta um perfil e face cristã. As ditaduras mais crueis de extrema direita tinham uma convivência e conivência com aqueles que se diziam representantes da fé cristã e, em especial, com o catolicismo. Foi assim com o fascismo italiano,  com o franquismo espanhol, o salazarismo português e em tantas outras ditaduras espalhadas pela América Latina e Caribe. O catolicismo por sua vasta experiência enquanto religiosidade que imperou durante todo o período da cristandade. Passa, além  de sua dimensão e caráter institucional, uma imagem sólida, monolítica e milenar. Ao contrário do Protestantismo que, a rigor, é considerado como movimento cismático. Por onde suas principais vertentes se espalharam, se enveredam rapidamente por um processo de fragmentação. Atualmente o termo fragmentação perdeu um pouco de seu significado. A terminologia que melhor se ajusta a essas vertentes ou subprodutos do Protestantismo seria a terminologia 'Pulverização’. A comparação entre catolicismo e protestantismo no Brasil é a mais fiel possível. E quem sabe, talvez tenha sido esse tipo de lógica que também norteou essa aventura golpista. 


Esses pastores midiáticos que através de uma estrutura de marketing, nisso eles são imbatíveis, são capazes de arregimentar multidões de pessoas para os seus eventos. Como mobilizadores são peças fundamentais para qualquer tipo de propósito. Por isso mesmo, nessa aventura, os golpistas jamais abririam mão deles. Mas, a importância deles para por aí. Foi por conta desse tipo de analogia e na razão direta daquela imagem do tabuleiro de xadrez que foi atribuída a eles apenas a função desempenhada pelos peões. Mesmo que essa tal aventura golpista tivesse logrado êxito, não há futuro para aquele que se diz protestante ou evangélico quando elencamos para efeito de reflexão alguns argumentos com relação direta a um projeto político de poder. Primeiro, por conta de sua nulidade desde uma perspectiva histórica e institucional. Se pensarmos que num dimensionamento histórico, o arcabouço cosmológico de uma teologia evangélica e, ou protestante, inexiste em função deles possuírem, embora pela prática abusem desse precedente, e transgridem sua principal fundamentação teológica e sistemática: A escatologia.


Não é sem motivo que boa parte dessas lideranças evangélicas tenham feito uma revisão profunda em suas pregações, que por questão pessoal, prefiro chamar de retórica. A iminência da volta de Cristo inexiste nessas retóricas evangélicas. E por uma simples razão não dá pra falar de alguém que está voltando para julgar os homens. Não dá pra falar de alguém que vai dar cabo deste mundo e levar seus fieis para o eterno gozo das venturas celestes. Caso isso aconteça, e no passado era assim que funcionava, o rebanho não terá qualquer tipo de preocupação em trabalhar com afinco com o objetivo de acumular. Se tal tipo de pensamento ainda existisse, então poderia se dizer que a teologia da prosperidade não vingou. 


A chave linguística para o que se detecta nesses movimentos tidos como evangélicos baseia-se nesta parte integrante da teologia sistemática, isto é, no abandono da escatologia. Não há nenhum tipo de expectativa por parte desses grupos pela volta do Cristo. Nos anos 80, quando apenas era um estudante do curso de teologia no Rio de Janeiro. Já se podia ter algum tipo de entendimento acerca da natureza desse fenômeno. Tive um professor, professor não, um verdadeiro mestre que durante a ministração de uma de suas aulas em Teologia Sistemática. E especificamente abordando a função da escatologia neste sistema aliada a discrepâncias nas retóricas e pregações dessa época. Ele faz a citação de um escritor norte americano. Seu nome era Hal Lindsei e seus livros sempre estavam na lista dos best sellers. Sua temática era sempre o fim do mundo. Mas, havia um problema, segundo este meu professor. E o problema era de que se este cidadão acreditasse tanto na volta de Jesus, por causa de que então ele investia quantias vultosas na compra de imóveis?  


Mesmo que sejamos capazes, digo, incapazes de produzir uma teologia genuinamente com um DNA tupiniquim, o tipo de teologia que aqui tem chegado via evangelicalismo norte americano é, sem dúvida alguma, um grande elefante branco. Somado a isto, a relação do evangélico com o poder no contexto nacional, será sempre problemática. Buscar um alinhamento com o Estado Brasileiro haverá de ser sempre um tiro no pé. Fenômenos como a teologia da prosperidade, e atualmente a tal teologia do domínio, têm um ciclo de vida bastante reduzido. São retóricas de dominação da consciência. Não custa nada lembrar que não são fenômenos com DNA de origem em solo brasileiro. São teologias importadas do mundo anglo-saxão e vale muito fazer esta observação, embora seja de origem germânica, trata-se do pior ramo germânico. Já houve manifestação de um líder de uma dessas igrejas históricas do Protestantismo Brasileiro dando conta de que a prática litúrgica de uma determinada igreja neopentecostal se assemelhava muito ao tipo de catolicismo primitivo muito presente no tecido social brasileiro. As ideias não se combinam é a percepção que se tem ao se tentar propor uma análise mais profunda e dotada de um pensamento e natureza crítica.


O fundo histórico do Protestantismo Brasileiro é forjado e tem o formato de uma base teológica e sistemática de caráter escatológica. E por uma simples razão, esse protestantismo surge no contexto das missões. E os pioneiros dessas missões que por aqui aportaram trouxeram consigo o afã de evangelizar o mundo cumprindo com o mandamento do mestre de ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura¹². As primeiras experiências aconteceram em meio às disputas geopolíticas do cristianismo protestante e europeu da plataforma continental. Esta aventura colonial não foi adiante dada essa dificuldade ocasionada por disputas geopolíticas (Invasão Francesa do Rio de Janeiro). Afinal de contas, estávamos no século XVI e a disputa por rebanhos onde quer eles estivessem passou a ser regra entre católicos e protestantes. Dessa maneira, digladiavam entre si. Com isso, foram capazes também de exportar os seus muitos problemas. Se porém a disputa religiosa por meio da empresa colonial resultou em um verdadeiro fracasso aqui no cone Sul, o que ocorreu posteriormente do lado protestante tem como resultado as ondas migratórias do século XIX, tanto de pessoas oriundas do velho mundo, quanto daqueles que vinham da América do Norte.


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¹  RATZINGER, Joseph & D'ARCAIS, Paolo Flores. Deus Existe? São Paulo, Editora Planeta. 2009. p.13.


²  Artigo VII do Manifesto de 7 de Outubro de 1932.


³  São estes os instrumentos pelos quais a igreja católica se manifesta publicamente: Carta Encíclica ou Encíclica, Encíclicas Epístolas Constituição Apostólica, Exortação Apostólica, Breve apostólico, Carta Apostólica. Bula.



⁴  Sobre a Maçonaria ou qualquer tipo de sociedade secretas, são mais de 20 documentos, entre bulas e cartas pastorais. Mas, foi Leão XIII quem mais combateu a Maçonaria: “Annun Ingressi, 1921).


⁵  Para ser bastante sintético, faço menção apenas do Catecismo da Igreja Católica que em seu artigo 2425 afirma que a igreja rejeita as ideologias totalitárias é areias, associadas, nos tempos modernos, ao ‘comunismo ou ao ‘socialismo’.


Pio VII, carta apostólica “Post tam Diuturnitas”, ao bispo de Troyes, na França, condenando a “liberdade de cultos e de consciência”, estabelecida pela constituição de 1814.(74)


⁷  VAZ, P. Doutrina Social da Igreja, o Estado, as ideologias e a crise.


⁸  Biblioteca Reformada - A Confissão fe Fé da Guanabara


⁹  Moita, Luís (2012). "Uma releitura crítica do consenso em torno do «sistema vestefaliano»". JANUS.NET e-journal of International Relations, Vol. 3, N.º 2, outono 2012.


¹⁰  Em 24 de Agosto de 1572, católicos parisienses empreenderam uma caçada que resultou na morte de quase 3000 protestantes, Huguenotes. Foi a noite de São Bartolomeu.


¹¹  Umberto Eco, O Fascismo Eterno, in: Cinco Escritos Morais, Tradução: Eliana Aguiar, Editora Record, Rio de Janeiro, 2002. 


¹²  Marcos 16:15











Uma leitura exegetica e um pequeno comentário em Gálatas 3:1.

 Galatas 3:1. Ω ἀνόητοι Γαλάται, τίς ὑμᾶς ἐβάσκανεν, οἷς κατ' ὀφθαλμοὺς Ἰησοῦς Χριστὸς προεγράφη ἐσταυρωμένος;

Ω (Ō): Isso é uma interjeição grega usada para expressar surpresa, indignação ou choque. Em tradução livre, poderia ser equivalente a "Ó!".

ἀνόητοι (anoētoi): Isso significa "insensatos", "tolos" ou "desprovidos de entendimento". Paulo começa o versículo chamando os Gálatas de "insensatos" por causa de sua conduta.

Γαλάται (Galatai): Isso se refere aos destinatários da carta, os Gálatas, ou seja, os habitantes da região da Galácia.

τίς (tis): Isso significa "quem". Indica uma pergunta direta.

ὑμᾶς (humas): Isso significa "vocês". Refere-se aos Gálatas.

ἐβάσκανεν (ebaskanen): Esta é uma forma verbal do aoristo, que indica uma ação pontual no passado. Significa "enfeitiçou" ou "iludiu". Paulo está questionando quem iludiu os Gálatas.

οἷς (hois): Isso significa "a quem" ou "aos quais". Refere-se aos Gálatas.

κατ' (kat'): Significa "de acordo com" ou "conforme". Indica a maneira como algo é feito.

ὀφθαλμοὺς (ophthalmous): Isso significa "olhos". Refere-se aos olhos dos Gálatas, ou seja, à sua percepção ou entendimento.

Ἰησοῦς (Iēsous): Isso se refere a "Jesus", o nome do Cristo.

Χριστὸς (Christos): Isso significa "Cristo" e é um título messiânico para Jesus.

προεγράφη (proegraphē): Esta é uma forma verbal do aoristo passivo, que indica uma ação concluída no passado, no modo passivo. Significa "foi prefigurado" ou "foi claramente retratado". Refere-se à maneira como Jesus Cristo foi apresentado ou proclamado aos Gálatas.

ἐσταυρωμένος (estaurōmenos): Esta é uma forma verbal do particípio aoristo passivo, que indica uma ação concluída no passado, no modo passivo. Significa "foi crucificado". Refere-se à morte de Jesus na cruz.

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Quando você se depara com um texto desse e uma exegese significativa, detalhista. A impressão que se tem é que Paulo caiu numa armadilha montada por ele mesmo.


Evidentemente que ele endereça uma carta como esta a um grupo de pessoas. Uma comunidade de crentes da região da Galácia. E a fama dos habitantes dessa região, historicamente não era muito boa.


Há documentos antigos que mostram que eles eram signatários de acordos, mas nunca cumpriam o que assinavam. Há, inclusive, um registro do próprio Júlio César reclamando desse comportamento dos Gálatas.


Entretanto, quando fiz menção de Paulo estar caindo na própria armadilha. Diz respeito àquela passagem de II Coríntios 3:6. Ali ele afirma que a letra mata. Rapidamente, é preciso entender que na teologia de Paulo tudo se resume à escritura.


O seu grande zelo quanto a pregação do evangelho tem como parâmetro o cumprimento da escritura em Cristo Jesus(I Coríntios 15:3 E 4). A maneira miraculosa e pessoal com que ele descreve seu encontro com Cristo na estrada de Damasco fica em segundo plano na relação que ele tem com a escritura.


Estava tentando conferir com algumas versões desse texto de Gálatas 3:1. Alguns deles, inclusive a Bíblia de Jerusalém, fazem, a meu ver, uma tradução do termo PROEGRAFĒ, que nada mais é do que um eufemismo. No sentido de limpar a barra de Paulo.


Vi nessas versões aludidas no parágrafo acima e que tratam da tradução do termo PROEGRAFĒ, expressões como: Evidenciado, representado, exposto. A própria Bíblia de Jerusalém também referenciada acima, se vale da expressão dizendo que diante dos olhos dos Gálatas a imagem de Jesus crucificado foi DESENHADA.


Esta mesma escritura que traz consigo todo esse colorido de valor intrínseco do apóstolo, parece não ser capaz, do ponto de vista de sua relação com os Gálatas, de aproximar esses mesmos Gálatas das verdades reveladas por este Cristo crucificado e ressurreto ao terceiro dia.


A forma como essas versões se apresentam elimina todo e qualquer fundo histórico que perpassa a mensagem da cruz. A própria exegese em questão desse texto sinaliza que uma das peculiaridades desse texto ao se referir a PROEGRAFĒ como estando flexionado no Aoristo, faz referência a um passado que pelos seus desdobramentos no tempo tem repercussões ad infinitum. 








Fiquem com a fé!!!

  Texto - Hebreus 12:1-16 Tema - Fiquem com a fé!!! ICT - Assim como essa grande nuvem de testemunhas do passado. É nosso dever e obrigação ...